TURNÊS

AMIGO 1994

Há que se cuidar da vida, há que se cuidar do mundo

Milton Nascimento e Orquestra Jazz Sinfônica
Participação especial: Crianças do Programa Curumim e Rouxinóis de Divinópolis



PESCADORES DE TI
Sentados à beira do rio, dois pescadores seguravam suas varas à espera de um peixe. De repente, gritos de crianças trincam o silêncio. Assustam-se. Olham para a frente. Nada. Olham para trás. Nada. Os berros continuam e vêm de onde menos esperavam.

A correnteza trazia duas crianças quase afogadas, pedindo socorro. Jogam fora suas varas e pulam na água. Mal conseguem salvá-las com muito esforço, eles ouvem mais berros e notam que mais quatro crianças descem desesperadas rio abaixo. Ainda sem fôlego, pulam novamente - duas delas não se salvam.

Aturdidos, os dois não quiseram acreditar quando ouviram uma gritaria ainda maior. Dessa vez, eram oito seres se debatendo na água.

Um dos pescadores, vira as costas para o rio e começa ir embora. Seu amigo exclamou: - Você está louco? Não vai me ajudar? E ouviu uma resposta serena: - Faça o que puder. Vou tentar descobrir quem está jogando as crianças no rio.Essa antiga lenda indiana retrata como nos sentimos no Brasil. Temos poucos braços para tantos afogados. Mal salvamos um, vários descem rio abaixo, numa corrente incessante de apelos e mãos estendidas.

Somos obrigados a cair na água e, ao mesmo tempo, sair à procura de quem joga as crianças ao rio.
Incrível corno homens às margens do rio conseguem conviver com os berros. E até dormir. É como se não ouvissem.

Descobrimos que os responsáveis pelos afogados não estão escondidos rio acima. Estão do nosso lado: são os afogados morais, gente que não descobriu o prazer infinito da solidariedade.

Não descobriu o encanto de estender poucos centímetros a mão e encostar os dedos na estrelas. Tão fácil agarrar uma estrela, refletida no brilho de quem salvamos da falta de ar.

Veio da Índia a frase do célebre poeta Rabindranath Tagore sobre por que existiam as crianças. Dizia: "São a eterna esperança de Deus nos homens".

É preciso mesmo infinita paciência, renovada a cada nascimento, para que possamos conviver com a apatia cúmplice. Por sorte, também temos pescadores que, dia após dia, mostram como as crianças sobrevivem nos homens. E há várias formas de pescar. Nenhuma poderia ser mais bela do que com a voz.
Gilberto Dimenstein

"Mais de 100 milhões de crianças vão morrer nesta década. Vão morrer ressecadas pela desidratação, asfixiadas pela pneumonia, infectadas pelo tétano, pelo sarampo, pela coqueluche. Estas cinco doenças, que podem ser tratadas ou evitadas, a custos inexpressivos, pela vacinação, pela terapia de reidratação oral ou por antibióticos, são as causas da morte e da desnutrição de metade das crianças do mundo moderno.

8 mil crianças morrem a cada dia por não terem sido imunizadas; cerca de 7 mil morrem, também diariamente, vítimas da desidratação diarréica, enquanto outras 6 mil pela pneumonia.

Colocar à disposição todas as medidas de baixo custo, hoje existentes, capazes de resolver esses problemas de saúde infantil custaria, aproximadamente, 2,5 bilhões de dólares por ano.

Recursos consideráveis, o mesmo gasto pela ex-União Soviética com vodca, tanto quanto os Estados Unidos gastam, apenas com publicidade de cigarros; 10do que o Mercado Comum Europeu gasta com subsídios anuais à agricultura; e 2dos gastos militares só dos países em desenvolvimento."
Palavras do UNICEF
Fundo das Nações Unidas para a Infância.

Em 1993, estávamos em New York, quando chegou a notícia do massacre das crianças da Candelária.
As conversas do Milton ficaram, ainda mais, silenciosas.
Dias depois ele desabafa:
"se eu não tivesse nascido no meu tempo, na minha hora certa, provavelmente hoje não existiria o cantor Milton Nascimento."

A história de vida do artista ficou no ar.
A constatação e a perspectiva da realidade brasileira incomodou mais ainda e está impressa no disco "Angelus", lançado pela Warner Bross, mundo afora.
O disco entrou na parada americana da Billboard. Milton foi indicado,pela revista Downbeat, como uma das melhores vozes masculinas do mundo, ao lado de Frank Sinatra, Ray Charles, Tony Bennet.
As crianças brasileiras "que comiam luz, no brejo da cruz" viraram anjos. Outra parte continua passando fome.
Márcio Ferreira

O BERÇO É AQUI
Os mineiros têm percorrido, e com obstinação, os caminhos que descobriram para a conversão dos sonhos e das promessas em realidade. Desde os tempos dos inconfidentes, eles mostram que mudar é simples, ainda que possa parecer impossível.

São provas disso Tiradentes e a obcecada perseguição da liberdade. O presidente Juscelino Kubitschek e sua paixão pelo progresso. Tancredo Neves e sua fiel devoção à reconstrução da democracia nacional.
E novamente os mineiros estão de volta à estrada que materializa esperanças. E amizades.

Agora, para dar uma garantia às gerações futuras.
Compositores, cantores, maestros e músicos uniram-se a empresários e às autoridades de Minas com o objetivo de desencadear um movimento das consciências em favor da criança brasileira. Um movimento contra o torpor geral.

Não dá mais para o País continuar cego, surdo e mudo diante das condições ruandesas em que milhares - quem sabe, milhões - de miseráveis de calças-curtas vivem no campo e nas cidades. Abandonados, ignorados, condenados a existir sem futuro.

Milton Nascimento, a Orquestra Jazz Sinfônica de São Paulo, os Rouxinóis de Divinópolis e as crianças do Programa Curumim criaram um roteiro emocionante para levar às platéias brasileiras o canto mensageiro da esperança de mudança.

Puro, simples. Amigo.
O palco, que Milton, a Orquestra e os pequenos cantores pretendem transformar em um altar da solidariedade, será a testemunha da tentativa de mais uma vez se recriar os sagrados sentimentos da compaixão, da solidariedade e da cidadania.
Da fraternidade e também da amizade.

Com apoio do povo, do empresariado e de setores governamentais, é possível realizar e construir coisas belas.
Minas aponta o caminho.
Amigos no Palco
CREDIREAL A cada passo, um banco melhor.
GOVERNO DE MINAS GERAIS
UNICEF
FUNDO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A INFÂNCIA