NOTÍCIAS

MILTON NASCIMENTO FALA SOBRE 2008 E OS PROJETOS PARA 2009

Muita coisa aconteceu... Muita coisa boa vem por aí...

Esse ano terminou com a minha vinda para Búzios com a família e amigos. Já faz muito tempo que acontece assim. Passo o ano inteiro viajando para todos os cantos do mundo, coisa que adoro fazer e, como sou um ser humano, tiro umas pequenas férias à beira mar. 2008 foi um ano especial, ótimo para mim e meus músicos. Fomos três vezes para a Europa, uma vez para os States e Canadá. E, além do lançamento de Novas Bossas (disco elaborado com o Jobim Trio - na realidade, um trio de quatro músicos), lançamos também o CD que fiz junto com os franceses Irmãos Belmondo e Quinteto, Sinfônica da Ille de France e ainda com o músico brasileiro, residente em Paris, Marcio Faraco e grupo.

Às vezes me perguntava onde estou, que show vai rolar? Mas, tudo deu certo. Passamos oito meses fora, indo e vindo e fazendo shows aqui no Brasil também, ou com o Jobim Trio, ou com a minha banda, que adoro, formada pelo Kiko Continentino, Lincoln Cheib, Wilson Lopes, Gastão Villeroy, Widor Santiago e Marco Lobo. Com Lincoln Cheib e Gastão, fizemos a trilha "Q'eu Isse", do ballet "Será que?", de Belo Horizonte, uma experiência bem diferente e boa de trabalhar. No começo, eu só conhecia o coreógrafo e bailarino...

Além dos shows, fizemos vários workshops, que pareciam uma mistura de história e música. Foi o que nos agradou bastante, pois, não há coisa melhor que conviver com estudantes, a maioria universitários. Mais para o fim do ano, aproveitamos para viajar muito de ônibus e trens de grande velocidade, até por baixo do mar, indo da França para Inglaterra. Estivemos também no Festival de Jazz de Ouro Preto, no Brasil. Eles me fizeram uma grande homenagem e trouxeram dois de meus músicos americanos Wayne Shorter (sax) e Ron Carter (baixo). Nesse show foi o "batismo" do meu afilhado Pedro Bernardo, de dezesseis anos, conhecido como Pedrinho do Cavaco. Ele tocou com a gente "Ana Maria" de Wayne Shorter e "Encontros e Despedidas", minha e de Fernando Brant.

A participação do Pedrinho começou com uma surpresa para mim. Quando cheguei de uma dessas viagens ele me chamou para ir com até o estúdio, em casa, e tocou umas músicas para eu ver se gostava. Simplesmente arrasou e eu lhe disse para tocar com a gente no Festival de Jazz, coisa que o assustou um pouco, mas, nos ensaios e no palco, foi um "arraso". E ele ainda tocou piano, que é um instrumento que adora. Quando o Pedrinho começou a tocar, há uns dois anos, me prometeu que nunca deixaria o cavaquinho e o samba, porque desde pequeno ele passeia pelos dois feito gente grande. Espero que continue assim.

Nos intervalos das viagens internacionais, fizemos shows em várias cidades do interior de Estado de São Paulo e em Salvador, Brasília, Vassouras (RJ) e Florianópolis. Voltando ao exterior, em Miami fui agraciado com a Chave da Cidade. Na Itália, ganhei um prêmio no Festival de San Remo (Prêmio Tenco) e, durante uma das viagens de ônibus, recebemos um e-mail de Londres, de um autêntico membro do Parlamento Britânico. Ele pedia licença para apresentar o nosso show (meu e do Jobim Trio) lá. Aceitamos e, quando aconteceu, ele cantou para uma platéia superlotada. Foi então que nos contou que havia estado em Ouro Preto, no meio do povo e que gostou muito de tudo. Em Londres, disse que as pessoas deveriam conhecer Ouro Preto, nos presenteou com uma camiseta do Festival e nos convidou para visitarmos o Parlamento na próxima vez que fossemos lá.

Muitas coisas aconteceram nesses shows e viagens, inclusive disseram, em Paris, que eu deveria ganhar um título de doutor honoris causa da Sorbonne, uma das mais tradicionais universidades do mundo. Estou esperando.

Ao contrário de várias críticas que a música Breath after Breath (para escutar a música acesse a Rádio Bituca), que fiz e gravei com o grupo Duran Duran, ela foi escolhida pela BBC de Londres como uma entre as dez melhores músicas de todos os tempos do Duran Duran. Está lá, em quinto lugar. Salve quem realmente entende do que fala.

Depois do Natal, que passei em Três Pontas, minha cidade, fui agraciado com uma homenagem em forma de circo, com shows das bandas de lá, na Praça Travessia, onde vivemos minha família e eu. Como eu disse, foi um ano bastante movimentado e cheio de coisas boas.

Agora, vamos reiniciar as viagens, as gravações e as produções com o meu selo NASCIMENTO. Divulgar muito o trabalho de Marina Machado, de Pedrinho do Cavaco, dos meninos de Três Pontas (Änïmä Minas) e seguir agradecendo a Deus pela graça que nos dá, nessas maravilhosas surpresas com as quais nos presenteia, sempre.

E, no mundo, disseram que nunca me viram cantar tão bem. Tipo vinho. Obrigado.

Milton Nascimento