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DIÁRIO DE ESTRADA: BITUCA'S TRIP - Nº 4 - CAMPO GRANDE (MS) - Maio 2010

Desta vez a "Trupe" embarca para a capital do Mato Grosso do Sul, e os jornalistas Danilo Nuha e Bruno Tasso relatam cada passo de Milton Nascimento na "Cidade Morena".

"A vida e o modo de viver dos índios Guarani do Mato Grosso do Sul, no Brasil, estão sendo gravemente ameaçados pelo não reconhecimento de seus direitos à terra. A ocupação e usurpação de suas terras pela indústria e ações governamentais têm resultado em uma situação desesperadora na qual os Guarani sofrem por detenção injusta, exploração, discriminação, desnutrição, intimidação, violência e assassinato, além de uma taxa de suicídio extremamente alta."
(Relatório da Survivel Internacional - março 2010)

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Em meio à agitação de pouco mais de uma dezena de pessoas no estúdio de Milton Nascimento, em sua casa, na noite de 10 de abril de 2010, recebo um telefonema de Campo Grande (MS), era o jornalista e antropólogo Bruno Tasso.

"Fala aí Danilo, beleza? Tudo bem contigo? Rapaz, o negócio é o seguinte, to na assessoria de comunicação de um projeto em prol dos Guarani. Dentro das atividades do projeto está marcado um grande Show a favor deles, será no dia 15 de maio, aqui em Campo Grande mesmo. O projeto já conta até com o apoio da ONU... Aí é o seguinte, eu disse pro pessoal aqui que sou seu amigo e lancei a ideia de trazer o Milton pra cá, não só pela importância artística, mas também pelo fato dele sempre estar envolvido com causas sociais. Aparentemente ninguém levou muita fé. O que você acha? Será que você consegue falar com ele? Dá pra acreditar nessa possibilidade?"

Logo de início, a proposta me pegou na veia, sobretudo pelo fato de se tratar de uma causa indígena pouco conhecida. Mas eu ainda teria que conseguir informações detalhadas sobre o evento antes de falar com Milton, que estava no meio de uma gravação com o maestro Vittor Santos e o saxofonista Widor Santiago. A faixa que estava sendo gravada era para o novo disco de Bituca, uma produção feita em conjunto com músicos de Três Pontas (MG).

Enquanto a movimentação só aumentava no Bituca's Estúdio, segui as orientações do Bruno e comecei a ler o material que ele havia mandado sobre a situação dos Guarani de Mato Grosso do Sul.

Ao longo da carreira, Milton já participou de diversas ações, projetos e campanhas de cunho social. E nem sempre o foco é o mesmo, mas sempre que chamado para colaborar numa causa honesta, ele esteve lá. Seu histórico de lutas foi tenso desde o início, como na resistência à Ditadura Militar no Brasil (1964 - 1984), quando o governo - entre inúmeras arbitrariedades contra ele - o proibiu até de ver seu próprio filho. Durante os anos de resistência ao regime, Milton teve que lutar contra perseguições, torturas psicológicas, censuras e ameaças do governo militar, mas nem por isso optou pelo exílio. "Do Brasil eu só saio morto" - disse ele na época, enquanto grande parte da classe artística brasileira deixava o país. Este ainda é um assunto pouco explorado, mas Milton resistiu praticamente sozinho dentro da música popular durante o período mais sangrento da ditadura (entre 1969 e 1971), quando Médici e o demônio do AI-5 controlavam tudo e todos. Depois disso, Milton teve atuações significativas ao lado do MST (Movimento dos Sem Terra), da Aliança dos Povos da Floresta, da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), das Diretas Já (pela redemocratização do Brasil) e das manifestações contra o Apartheid na África do Sul, tanto que, em 2004, ele recebeu do governo sul-africano uma comenda pelo papel desempenhado contra a discriminação racial na terra de Mandela.

Milton também participa constantemente de vários projetos sociais que trabalham música com crianças carentes, como os corais Rouxinóis, Curumins, Meninos de Araçuaí e Ponto de Partida.

Outro ponto marcante de Bituca ao lado das minorias é a gravação de discos. O projeto Missa dos Quilombos (1982), gravado ao vivo na Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, em Caraça (MG) e em Santiago de Compostela (Espanha), teve como objetivo principal celebrar a inédita aliança entre "os Negros da África, os Afros da América e os Negros de todo mundo com os Pobres da Terra", como definiu Pedro Casaldáliga. A Missa, idealizada por Dom Hélder Câmara, também contou com a colaboração de Pedro Tierra e Fernando Brant.

Já em 1990, Milton viajou pela Amazônia para pesquisar e observar a situação dos índios, mais precisamente do Acre até a divisa com o Peru, numa viagem que durou quase 20 dias de barco pelo Rio Juruá. Desta travessia, surgiu o disco TXAI, que chegou a liderar a parada de sucessos da Revista Billboard na categoria World Music. Um trabalho fortemente influenciado por tribos indígenas e seringueiros. Devido sua atuação através do TXAI, Milton foi convidado a participar da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD). A Conferência, mais conhecida como Eco-92, foi realizada no Rio de Janeiro em junho de 1992 e tinha como meta buscar meios de conciliar o desenvolvimento socioeconômico com a conservação e proteção dos ecossistemas da Terra.

O trabalho desenvolvido por Milton também foi reconhecido, em 1996, pela Rainforest Foundation, que lhe entregou um prêmio por sua atuação ecológica e a favor dos povos indígenas. O Rainforest é considerado mundialmente como uma espécie de Nobel alternativo, ou seja, mais isento de interferências tecnocratas. E com um histórico de lutas poucas vezes visto no cenário musical, só mesmo Milton Nascimento para abraçar um uma proposta como esta, que ao mesmo tempo mostra as inúmeras dificuldades e o descaso do governo com os Povos Guarani em Mato Grosso do Sul.

De acordo com dados fornecidos pelo projeto, "antes da conquista europeia estima-se que havia mais de dois milhões de Guarani na América do Sul. Eles ocupavam vastos territórios; no Brasil viviam nas regiões sul, sudeste e centro-oeste, no Paraguai povoavam o oriente do país, na Argentina, o nordeste e, na Bolívia, algumas regiões do centro e sul do país. Nos três séculos seguintes a história destes indígenas foi marcada por transformações radicais. Nos anos de 1960 e 1970 ocorreram grandes mudanças ecológicas e a maior parte das extensas matas da região foi derrubada para dar lugar às fazendas. Hoje, a população Guarani Kaiowá no Mato Grosso do Sul é de 42 mil índios. Nos últimos 20 anos, cerca de 600 Guarani Kaiowá cometeram suicídio; em sua maioria jovens. Em 2007, foram contabilizados, até o mês de outubro, 35 indígenas assassinados. Destes, 12 tinham entre 14 e 20 anos. Uma idosa de 107 anos; um homem de 76 anos e outra idosa de 70 anos estão entre os assassinados. Vários desses assassinatos seguem impune. Situação atual: 60(25mil a 26mil) desses indígenas estão impossibilitados de produzir seu próprio alimento. O povo Guarani Kaiowá ocupava uma extensão de três milhões de hectares do atual território do Mato Grosso do Sul, hoje, os Guarani Kaiowá ocupam um território total de 40 mil hectares. A lentidão com que o Estado brasileiro responde às reivindicações das últimas três décadas pela regularização de suas terras comprovadamente de ocupação tradicional, complica ainda mais a situação".

Imprimi todos estes dados e fiquei à espera de uma pausa nas gravações para falar com Bituca. Já passava das 21h quando os músicos fizeram uma pausa para o lanche. Milton, que ouvia o trecho de uma música que acabara de ser gravada, estava sentado no sofá. Aproveitei este intervalo e expliquei o projeto e a situação vivida pelos Guarani. Antes que eu mostrasse qualquer dado impresso numa folha, ele disparou:

"Bicho, não precisa falar mais nada. Eu tô nessa, com certeza".

Assim que os músicos voltaram para o estúdio, fui até o escritório da Nascimento e liguei para o Bruno:

"Rapaz, pode se preparar, o homem vai!".

Ainda faltava um mês para o evento, então decidi ir pessoalmente a Campo Grande - minha cidade natal - para conhecer todos os detalhes do ato. Bruno Tasso, que é meu amigo desde os tempos da faculdade e responsável pela ideia de colocar Milton frente a frente com os Guarani, foi quem me explicou todas as etapas da programação. O fato de ser campo-grandense, também me deixou muito mais seguro para visualizar a logística que levaria a "Trupe Nascimento" a Mato Grosso do Sul.

14 de maio de 2010

Após um período de muito planejamento para ter Milton no grande ato do projeto "Ava Marandu - Os Guarani Convidam", lá estava a Trupe completa no Aeroporto de Campo Grande. Era sexta-feira, 23h45. A cidade vivia a expectativa do evento, que além de Bituca, contaria com a presença do grupo pernambucano Nação Zumbi. Além da tradicional equipe de 15 pessoas - incluindo a redação completa da Gazeta de Nagô - Bituca ainda convocou para a viagem o músico Pedrinho do Cavaco, o sobrinho João Vitor Campos, o astro californiano Jason Mraz e a atriz Daniele Suzuki. Se as coisas já estavam movimentadas, agora sim que iam ficar ainda mais.

As duas sprinters e mais o carro que levava Bituca seguiram direto para o hotel Jandaia, localizado bem no centro de Campo Grande. Além de ficar a poucos metros do local do show, o hotel está localizado na mesma rua que o ambientalista Francelmo dos Santos ateou fogo ao próprio corpo como forma de protesto contra a construção de usinas de álcool do Pantanal, em 2004. Outro caso envolvendo decisões políticas sul-mato-grossenses que caiu no esquecimento.

O relógio no saguão do hotel marcava 01h18. A madrugada já estava presente e mesmo depois de ter feito uma viagem cansativa, Bituca me deu as seguintes instruções:

"Escute aqui, Japa, onde vocês forem jantar, eu também vou. Então diga ao pessoal pra esperar um pouco que eu já estou descendo".

Campo Grande tem poucas opções de restaurante após meia-noite. Por causa disso, a solução foi ligar para uma tia que faz comida japonesa na Feira Central, colada à antiga Estação Ferroviária. A Trupe estava empolgada, a presença de Bituca num giro pelas ruas da "cidade morena" deixou o clima ainda mais instigante. Era a terceira vez de Milton na região do Pantanal. A primeira foi em 1999, quando a turnê Crooner passou por Campo Grande. E a segunda foi na estreia do Festival América do Sul, em Corumbá (2004).

Bruno, a quem posso chamar de guia oficial desta patota é quem vai narrar os acontecimentos daqui pra frente.

Yakisoba, Tia Anésia e os Delírios improváveis em plena Caldeira do Pantanal, território Del viejo Mato Grosso do Sul

Por Bruno Tasso

Milton desce pro saguão. Os olhares mudam de perspectiva, os pescoços se entortam em sua direção, parecem galhos em busca de luz. Uma cena atípica. Tempo e olhos em câmera lenta. Agora, todos acompanham seus passos curtos e carregados de paz. Tem-se a impressão de que um rei generoso está ali. Um rei que não nasceu rei e que desarma batalhões com sua voz e sua presença marcante.

Milton sai do elevador, sorri olhando para todos e dispara simpaticamente:

"Vamos!"

Sim, um novo tipo de rei vinha a trabalho... Aquilo que estava em câmera lenta voltou ao seu ritmo normal. Todos dentro das vans. Milton, Pedrinho do Cavaco, João Vitor e Danilo num carro a parte. Próximo passo: yakisoba na Feira Central, consenso mais do que consentido e abençoado. Quem diria que logo no primeiro passeio por Campo Grande, Milton Nascimento e sua equipe iriam para um dos lugares mais populares da cidade.

Porém, Campo Grande apresentava uma madrugada sem muitas expectativas, a cidade não pulsava como o pessoal dentro dos automóveis. A Feira estava deserta, os feirantes limpavam e organizavam seus espaços para o sábado à noite. Mas como Dona Anésia já havia sido avisada que uma turma da pesada chegaria a sua barraca, tudo estava em casa. Era só chegar e começar a rodada de yakisoba.

Primeiro, apareceram os músicos, na sequência aparece Milton com o resto do pessoal. Os funcionários que ficaram na feira se perguntavam: é ele mesmo? Quem acreditou, foi lá e tirou fotos na maior tranquilidade. O ambiente era de muita descontração. Ao redor de algumas mesas colocadas lado a lado, toda turma devorava o yakisoba. Alexandre - o cozinheiro-enfermeiro-segurança de Milton - foi um dos que mais apreciaram o prato.

"Isso aqui tá muito bom, ein! Muito bom, mesmo".

Enquanto isso o relógio ganhava mais importância com suas 3h30. Pois logo logo, às 7h da manhã, os músicos passariam o som e os técnicos regulariam as pendências para o show da noite.

De volta ao hotel. Despedidas, detalhes acertados e cada um pro seu canto. Hora de dormir um pouco.

Da canoa para a casa de Dona Isabel

Breve descanso e o dia começa com o Sol abraçando o céu sem que nenhuma nuvem atravessasse o teto de Campo Grande. Depois de passarem o som, a equipe de Milton volta para o hotel. Enquanto eles se arrumavam para o almoço, Danilo me chama para subir até o quarto de Milton. No mesmo elevador e com a mesma direção embarcam o guitarrista Wilson Lopes, o baixista Bruno Migliari e o roadie Darck Fonseca. Pronto, quem abre a porta? Ele mesmo, Miltão! Todos o cumprimentam afetuosamente e seguem pra dentro do quarto. Muita gente entra, muita gente volta e muita gente sai. Isso segue até que Wilson Lopes convoca Milton Nascimento e Bruno Migliari para ensaiar "Canoa, Canoa", composição de Fernando Brant e Nelson Angelo.

Silêncio total, porta fechada... Arregalo os olhos, como se estivesse vendo a estréia de um dos melhores filmes do mundo. Milton faz alguns exercícios com a voz. Primeiros acordes e ... !!boom!!, começa o show:

Canoa, canoa desce
No meio do rio Araguaia, desce
No meio da noite alta da floresta
Levando a solidão e a coragem...

Enquanto seres de outros planetas se arrepiavam, a música seguiu seu curso encontrando ouvidos.

A canoa passou como um navio voador. Agradecei Danilo por ter me convidado para acompanhar aquela cena. Mas risonhamente ele responde com mais um trunfo.

"Agora vamos almoçar lá na minha mãe. Vai todo mundo. Vamos lá."

Vans prontas e o sobá mais caprichado de Campo Grande nos esperando. Da canoa para a casa de Dona Isabel, localizada na travessa José Bacha, ao lado do Mercado Municipal - mais conhecido como Mercadão.

Pra quem não conhece, o sobá é um prato típico de Okinawa (Japão). Em Mato Grosso do Sul ele sofreu algumas modificações que o deixou ainda mais saboroso, tornando-se um dos principais pratos da culinária campo-grandense

Dona Isabel recebeu todo mundo com a mesma satisfação e tempero, salvo Milton, com quem posou para uma foto. O almoço foi recheado de emoções. Visitas apareceram por lá, até mesmo André Tiso, irmão do músico e compositor Wagner Tiso, chegou acompanhado da mulher para bater um papo com Milton. Era alucinante ver aquela turma toda reunida mais uma vez, agora conversando e rindo em perfeita harmonia e encostados em um dos pontos mais centrais e populares da cidade. Dali pra frente, Milton já sabia que o show em prol dos Guarani teria alguma mágica.

Finalizado o sobá, muito papo e muitos agradecimentos à Dona Isabel. Parte da turma foi se divertir numa corrida de kart, enquanto Milton e o empresário Paulo Lafayette voltaram para o Hotel. Eles estavam à espera da atriz Daniele Suzuki e do cantor Jason Mraz, que chegariam naquela tarde.

Show e Batismo de Milton Nascimento

O tempo continuava em ritmo acelerado. Os convidados de Milton já haviam chegado. Além disso, mais de 300 Guarani vindos de diferentes aldeias de Mato Grosso do Sul já se concentravam na praça onde o show aconteceria. Entre eles, haviam 37 Nhanderu ("lideranças rezadoras"). A vinda do pessoal foi possibilitado pelo projeto, que tentou dar o máximo de visibilidade possível aos Guarani.

Às 17h começariam as apresentações do Show Cultura e Direitos Humanos dos Povos Guarani. Uma das surpresas seria o batismo de Milton Nascimento. Depois de se apresentar, Milton receberia um nome Guarani, entrando de vez para essa família.

Milton e banda estavam previstos para subir ao palco às 22h30. Às 20h20, quase toda a equipe já estava no local do evento para assistir ao show da Nação Zumbi. E além de Milton, Jason Mraz e Dani Suzuki, também estavam lá os técnicos Marcos Gil e Ronaldo Lima, o produtor geral Carlos Moraes e o iluminador Andersos Ratto. Às 22h50, Milton é anunciado. Primeiro entram os músicos e, logo depois, carregando um sorriso de "muito à vontade", Milton pega o violão, cumprimenta o público com um "boa noite Mato Grosso do Sul", e aperta o gatilho para mais um show.

Como era previsto, Milton emendou um sucesso atrás do outro durante mais de uma hora. E os músicos respondiam à altura de sua voz.

Tudo estava muito bom. Mas ainda restava uma surpresa: o batismo de Milton Nascimento. A cerimônia havia sido sugerida por Danilo e eu aos coordenadores do projeto. E a idéia foi bem recebida tanto por eles que organizaram encaixaram isso no show quanto pelos Guarani, que se sentiam orgulhosos de mais essa tarefa, batizar Milton Nascimento em um ritual em plena praça pública.

Dias antes do show, Danilo já havia conversado com Bituca sobre o batismo. A resposta dele:

"Minha expectativa é muito boa, porque eu tenho uma parceria de muitos anos com a Aliança dos Povos da Floresta, e esse convite dos Guaranis para participar deste ato em Campo Grande me deu muita alegria. Inclusive eu estou até me sentindo mais importante... Saber disso foi uma surpresa enorme e, pra dizer a verdade, quase me matou de susto. Eu não fazia idéia, isso é novidade pra mim. Não tenho nem o que falar..."

O nome escolhido pelos 37 Nhanderu foi: "Ava Nheyeyru Iyi Yvy Renhoi", que em português significa "Semente da Terra". O nome é dado a partir da percepção que os Nhanderu têm da pessoa.

Fim do batismo. Na sequência os Nhanderu iniciaram uma reza para abrir caminhos e fechar o dia com a certeza de que alguma coisa de especial aconteceu em Campo Grande.

Despedida

Tive a honra de conversar algumas vezes com Milton Nascimento durante a estadia dele e de sua turma por aqui. Parte dessas conversas foi possibilitada por Danilo, que fez questão de me apresentá-lo. A impressão que tinha de Milton, mesmo antes de conhecê-lo pessoalmente, foi confirmada. Ele é uma pessoa que está na Terra para elevar as coisas simples e necessárias às mentes e corações, fazendo com que o humano não se esqueça de si e de suas potencialidades criadoras. Fazendo com que cada um se reconheça em travessias, canções, sons e passem a valorizar mais encontros e despedidas. Para conseguir isso, ele teve muitos desafios durante toda sua vida. Porém, parece não ter esquecido nada do que passou, nada mesmo. Esse talvez seja seu grande segredo, a base que lhe deu a possibilidade de fazer mágica e hoje ser considerado um "cacique da simplicidade, o cacique da voz e, ao mesmo tempo, a semente da terra".

*Bruno Tasso é editor do Jornal Humanidade